REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA
Pela fala expressamos a melodia da língua. É um processo quase intuitivo, que praticamos quando expiramos com maior ou menor força.
Na escrita, utilizamos recursos gráficos para “ensinar” ao leitor a cantar essa melodia, ora apontando a sílaba tônica, ora indicando se o som vocálico é aberto ou fechado com o uso dos sinais diacríticos. Por isso é que se diz que a palavra “acento” encontra sua etimologia, ou seja, a origem da sua formação na expressão latina ad cantum (=para o canto).
Sinal diacrítico é um signo gráfico que se associa a uma letra para lhe dar uma característica fonética diferente daquela que a letra possui isoladamente. Exemplo clássico de sinal diacrítico é a cedilha, que diferencia a pronúncia do < c > de ‘caco’ do < c > de ‘caço’ (do verbo ‘caçar’). Além dela, existem o acento agudo (‘lá’), o til (‘lã’), o acento circunflexo (‘lâmpada’) e o acento grave (‘àquela’).
Então, se aplicamos acentos gráficos para “ajudar a cantar” a melodia da língua, quais as regras formuladas pelo Novo Acordo Ortográfico no particular?
No que interessa aos brasileiros, a acentuação gráfica, que é tratada nas Bases VIII, IX, X e XI do Acordo, é o tema em que se verifica o maior índice de alterações, se considerada a quantidade de palavras que tiveram a grafia modificada.
De modo geral, as modificações se concentram:
. nas palavras paroxítonas (‘heroico’, ‘ideia’),
. naquelas em que ocorre hiato (‘feiura’, ‘voo’) e
. nas homógrafas, ou seja, que têm a mesma grafia (‘pelo’, ‘pera’).
Essas modificações têm sempre o objetivo de eliminar os acentos gráficos até então presentes nesses grupos de palavras, e não de acrescentá-los.
1ª REGRA:
Elimina-se o acento agudo das palavras paroxítonas cuja sílaba tônica seja formada pelos ditongos abertos < ei > e < oi >.
Como era antes
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Como deve ser agora
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alcalóide
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alcaloide
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alcatéia
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alcateia
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apóio (verbo apoiar)
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apoio
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asteróide
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asteroide
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assembléia
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assembleia
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bóia
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boia
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clarabóia
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claraboia
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colméia
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colmeia
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Coréia
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Coreia
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Galiléia
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Galileia
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geléia
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geleia
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hebréia
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hebreia
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heróico
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heroico
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idéia
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ideia
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intróito
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introito
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jibóia
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jiboia
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jóia
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joia
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odisséia
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odisseia
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onomatopéia
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onomatopeia
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paranóico
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paranoico
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platéia
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plateia
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protéico
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proteico
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tramóia
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tramoia
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Atenção!
O acento PERMANECE:
1. Nas palavras oxítonas, mesmo que ocorram os ditongos abertos < ei > e < oi >, como em: ‘hotéis’, ‘heróis’, ‘papéis’, ‘troféu’, ‘troféus’;
2. Nas paroxítonas terminadas em < r >, como em: ‘blêizer’, ‘contêiner’, ‘destróier’, ‘gêiser’;
3. Nos monossílabos tônicos: ‘dói’, ‘méis’, ‘réis’, ‘sóis’.
2ª REGRA:
Elimina-se o acento agudo de palavra paroxítona formada pelas vogais < i > e < u > precedidas de ditongo.
Como era antes
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Como deve ser agora
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baiúca
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baiuca
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bocaiúva
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bocaiuva
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boiúna
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boiuna
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cauíla
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cauila
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feiúra
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feiura
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maoísmo
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maoismo
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Sauípe
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Sauipe
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taoísmo
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taoismo
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Mais uma vez atenção!
O acento permanece nas palavras oxítonas onde o < i > ou o < u > estiverem em posição final, após ditongo, mesmo que seguidos de < s >, como em: ‘tuiuiú’, ‘tuiuiús’, ‘Piauí’.
3ª REGRA:
Elimina-se o acento circunflexo nos seguintes casos:
1. Nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos ‘crer’, ‘dar’, ‘ler’, ‘ver’ e seus derivados.
Como era antes
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Como deve ser agora
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crêem (verbo crer)
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creem
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dêem (verbo dar)
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deem
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descrêem (do verbo descrer)
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descreem
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lêem (verbo ler)
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leem
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relêem (do verbo reler)
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releem
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vêem (verbo ver)
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veem
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2. Na vogal tônica fechada do hiato < oo > em palavras paroxítonas, seguidas ou não de < s >.
Como era antes
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Como deve ser agora
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abençôo (verbo abençoar)
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abençoo
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dôo (verbo doar)
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doo
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enjôo (verbo ou subst.)
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enjoo
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magôo (verbo magoar)
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magoo
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perdôo (verbo perdoar)
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perdoo
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povôo (verbo povoar)
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povoo
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vôo (verbo ou subst.)
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voo
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zôo
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zoo
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4ª REGRA
Elimina-se o acento agudo na vogal < u > das formas verbais que contenham < qu > e < gu > rizotônicos, ou seja, quando o < u > presente nessas sequências é tônico e faz parte da raiz do verbo.
Em tempo: para melhor compreendermos os enunciados seguintes, vale recordar:
* As formas verbais regulares podem ser decompostas em três elementos: raiz, vogal temática e desinências. Assim, em ‘amaremos’, por exemplo, tem-se o radical < am >; a vogal temática < a >; e duas desinências: a desinência < mos >, que indica a pessoa do verbo (no caso, a 1ª pessoa) e o número (no caso, plural); e a desinência < re >, que anuncia o modo (indicativo) e o tempo (futuro de presente).
* Quando a tonicidade da forma verbal flexionada recai sobre a raiz ou radical, dizemos que é rizotônica; quando não, dizemos que é arrizotônica. É o caso do exemplo dado acima. A forma ‘amaremos’ tem a tonicidade marcada na sílaba < re >, portanto recai fora da raiz do verbo (< am >) e é, então, arrizotônica.
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Na prática, além de perderem o trema quando o < u > é átono, verbos como ‘arguir’ e ‘redarguir’ e suas flexões não mais recebem o acento agudo, ainda que mantida a tonicidade no < u >.
ARGUIR
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arguo, arguis, argui, arguímos, arguís, arguem
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REDARGUIR
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redarguo, redarguis, redargui, redarguímos, redarguís, redarguem
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Atenção!
Quando no hiato < ui >a tonicidade recair sobre o < i >, este deve ser acentuado, como no exemplo: “Eu arguí todas as testemunas do caso”. Ainda: ‘arguíste’, ‘arguímos’, ‘arguís’.
Em alguns verbos, o emprego do acento é determinado pela pronúncia, como em ‘aguar’, ‘apaniguar’, ‘apaziguar’, ‘apropinquar’, ‘averiguar’, ‘desaguar’, ‘enxaguar’, ‘obliquar’ e ‘delinquir’. Nesses casos, admite-se que sejam grafados de duas formas, de acordo com a pronúncia.
1. Nas formas rizotônicas, ou seja, quando a tonicidade recai sobre o radical (aquele elemento que aparece em todas as formas flexionadas de verbos regulares), acentuam-se o < a > e o < i > do radical.
Veja, por exemplo, a conjugação dos verbos ‘aguar’ e ‘averiguar’, em que a tonicidade recai sobre os radicais < ag > de ‘aguar’ e < averig > de ‘averiguar’:
AGUAR
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AVERIGUAR
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(eu) águo
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(que eu) águe
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(eu) averíguo
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(que eu) averígue
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(tu) águas
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(que tu) águes
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(tu) averíguas
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(que tu) averígues
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(ele) água
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(que ele) águe
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(ele) averígua
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(que ele) averígue
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(nós) aguamos(*)
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(que nós) aguemos
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(nós) averiguamos
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(que nós) averiguemos
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(vós) aguais
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(que vós) agueis
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(vós) averiguais
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(que vós) averigueis
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(eles) águam
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(que eles)águem
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(eles) averíguam
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(que eles) averíguem
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(*) Observe que, nas formas destacadas, a sílaba tônica recai fora do radical < ag > de ‘aguar’ e fora do radical < averig > de ‘averiguar’. Portanto, não são acentuadas. Veja o caso seguinte.
2. Já se a tonicidade da pronúncia recai fora do radical (arrizotônica), não se utiliza o acento. Nos exemplos abaixo, a tonicidade não recai nem sobre o radical < ag > de ‘aguar’, nem sobre o radical < averig > de ‘averiguar’.
Veja o quadro abaixo:
AGUAR
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AVERIGUAR
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(eu) aguo
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(que eu) ague
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(eu) averiguo
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(que eu) averigue
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(tu) aguas
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(que tu) agues
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(tu) averiguas
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(que tu) averigues
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(ele) agua
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(que ele) ague
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(ele) averigua
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(que ele) averigue
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(nós) aguamos
|
(que nós) aguemos
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(nós) averiguamos
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(que nós) averiguemos
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(vós) aguais
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(que vós) agueis
|
(vós) averiguais
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(que vós) averigueis
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(eles) aguam
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(que eles) aguem
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(eles) averiguam
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(que eles) averiguem
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Assim, se a tonicidade recair sobre o < u >, este não receberá acento gráfico, como nas formas ‘enxague’, ‘oblique’; porém, se a tonicidade recair sobre as vogais < a > ou < i > da sílaba anterior, estas, obrigatoriamente, receberão acento gráfico (‘enxágue’, ‘oblíque’).
Atenção!
“No Brasil, a pronúncia mais corrente é a aquela em que o <a> e o <i> são tônicos”.
5ª REGRA:
Quando palavras de sentidos diferentes têm a mesma grafia, verifica-se o fenômeno da homografia.
As palavras homógrafas podem também ser homófonas, ou seja, terem o mesmo som, apresentarem os mesmos traços fonéticos. Para a Ortografia isso representava um complicador, daí a criação de ACENTOS DIFERENCIAIS – agudo ou circunflexo –, a fim de que, mesmo se tomadas isoladamente, fora de contexto, essas palavras contivessem “marcas” que indicassem a qual campo semântico pertenciam.
Entretanto, com a entrada em vigor do Novo Acordo, a regra geral é no sentido de que não mais se distinguem palavras homógrafas.
Como era antes
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Como deve ser agora
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pára (verbo parar) / para (preposição)
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para (verbo e preposição)
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péla (verbo pelar) / pela (preposição) / péla (substantivo)
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pela (preposição, verbo e substantivo)
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pólo (substantivo) / pôlo (substantivo) / polo (preposição antiga)
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polo (substantivos e preposição)
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pélo (verbo pelar) / pêlo (substantivo) / pelo (preposição)
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pelo (verbo, substantivo e preposição)
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pêro (substantivo) / pero (conjunção antiga)
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pero (substantivo e conjunção antiga)
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pêra (substantivo) / pera (preposição antiga)
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pera (substantivo e preposição antiga)
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Apenas algumas palavras permanecem acentuadas para se distinguir pelo acento gráfico:
- ‘pôr’ (verbo) para diferenciar de ‘por’ (preposição);
- ‘pôde’ (verbo na 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo) para diferenciar de ‘pode’ (3ª pessoa do singular do presente do indicativo); e
- os verbos ‘ter’ e ‘vir’, bem como seus derivados (‘manter’, ‘deter’, ‘reter’, ‘conter’, ‘convir’, ‘intervir’, ‘advir’ etc.) para diferenciar as formas da 3ª pessoa no singular (presente do indicativo) das formas da 3ª pessoa no plural (presente do indicativo).
6ª REGRA:
CASOS FACULTATIVOS
O Acordo recebeu assim a duplicidade articulatória de algumas palavras geralmente provenientes do francês, que, como reporta, “nas pronúncias cultas, ora é registrada como aberta, ora como fechada”, admitindo, pois, tanto o acento agudo como o acento circunflexo:
1) Algumas palavras oxítonas terminadas em < e > tônico admitem tanto o acento agudo quanto o acento circunflexo.
É facultativo
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bebê
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bebé
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bidê
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bidé
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canapê
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canapé
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caratê
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caraté
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crochê
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croché
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guichê
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guiché
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nenê
|
nené
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purê
|
puré
|
rapê
|
rapé
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2) Torna-se facultativo o emprego do acento circunflexo nas palavras oxítonas ‘judô’ e ‘metrô’;
3) É facultado, para fins de diferenciação, o uso do acento agudo nas formas verbais paroxítonas do pretérito perfeito do indicativo, na 1ª pessoa do plural, quando coincidirem com a forma verbal correspondente do presente do indicativo.
Presente do Indicativo
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Pretérito perfeito do Indicativo
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Aceita-se a grafia para representar o pretérito perfeito
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amamos
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amamos
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amámos
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cantamos
|
cantamos
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cantámos
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dançamos
|
dançamos
|
dançámos
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louvamos
|
louvamos
|
louvámos
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Atenção!
É facultativo o uso do acento da palavra ‘fôrma’ (substantivo) para diferenciar da palavra ‘forma’ (substantivo e verbo ‘formar’).
Veja, a seguir, um quadro resumido das novas regras de acentuação gráfica:
QUADRO RESUMIDO
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ACENTUAÇÃO GRÁFICA
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REGRA NOVA
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EXEMPLOS
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Atenção!
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Como era
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Como fica
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Não se acentuam mais os ditongos abertos < ei > e < oi > das palavras paroxítonas.
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andróide, estóico, geléia, heróico, idéia, platéia
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androide, estoico, geleia, heroico, ideia, plateia
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O acento permanece:
1) Nas palavrasoxítonas, mesmo que ocorram os ditongos abertos < ei > e < oi >, como em: ‘hotéis’, ‘heróis’, ‘papéis’, ‘troféu’, ‘troféus’;
2) Nas paroxítonas terminadas em < r >, como ‘blêizer’, ‘contêiner’, ‘destróier’, ‘gêiser’;
3) Nos monossílabos tônicos: ‘dói’, ‘méis’, ‘réis’, ‘sóis’.
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Não se acentuam mais o < i > e o < u > tônicos quando vierem depois de ditongos em palavras paroxítonas.
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baiúca bocaiúva, cauíla, feiúra
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baiuca, bocaiuva, cauila, feiura
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O acento permanece:
1) nas palavras oxítonas em que o < i > e o < u > aparecem em posição final, seguidos ou não de < s >, tal como em ‘Piauí’ e ‘tuiuiús’;
2) nas paroxítonas em que o < i > e o < u > não vêm depois de ditongo, como acontece em ‘juíza’, ‘uísque’, ‘ruína’ e ‘saúva’.
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Não se acentuam mais as palavras terminadas em < eem > e < oo >.
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abençôo, crêem, enjôo, lêem, perdôo, vêem
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abençoo, creem, enjoo, leem, perdoo, veem
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Não se acentua mais o < u > tônico precedido de < g > ou < q > na conjugação de verbos como arguir, redarguir, apaziguar, obliquar e averiguar.
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apazigúe, argúi, averigúe, obliqúe
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apazigue, argui, averigue, oblique
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Não se usa mais o acento diferencial em: ‘pára/para’, ‘péla/pela’, ‘pêlo/pelo’, ‘pólo/polo/pôlo’, ‘péra/pêra’.
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“Ela pára o carro”;
“Foi ao mercado comprar pêra”;
“Viajaram ao pólo Norte”;
“O cachorro estava com o pêlo macio”
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“Ela para o carro”:
“Foi ao mercado comprar pera”; “Viajaram ao polo Norte”;
“O cachorro estava com o pelo macio”.
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Permanecem os seguintes acentos:
1) o que diferencia ‘pode’ (verbo ‘poder’, 3ª pessoa do Presente do Indicativo) de ‘pôde’ (verbo ‘poder’, 3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo);
2) o que diferencia ‘por’ (preposição) de ‘pôr’ (verbo);
3) o que diferencia o singular do plural na 3ª pessoa do Presente do Indicativo dos verbos ‘ter’ e ‘vir’ e seus derivados, tais como ‘manter’, ‘reter’, ‘deter’, ‘conter’, ‘convir’, ‘intervir’, ‘advir’ etc:
ele mantém/ eles mantêm; ele detém/eles detêm; ele intervém/eles intervêm.
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Devido à duplicidade articulatória observada em certas regiões, admite-se tanto o acento agudo como o acento circunflexo em algumas palavras oxítonas terminadas em < e > tônico.
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‘bebê ou bebé’; ‘bidê ou bidé’, ‘caratê ou caraté’; ‘guichê ou guiché’; ‘nenê ou nené’
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São facultativos:
1) o acento circunflexo nas palavras oxítonas ‘judô’ e ‘metrô’; e
2) o acento circunflexo para diferenciar as palavras ‘forma’ (substantivo e verbo ‘formar’) e ‘fôrma’ (substantivo).
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Para fins de diferenciação, é facultativo o uso do acento agudo nas formas verbais paroxítonas do pretérito perfeito do indicativo, na 1ª pessoa do plural, quando coincidirem com a forma verbal correspondente dopresente do indicativo.
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‘amamos ou amámos’;
‘cantamos ou cantámos’;
‘louvamos ou louvámos’
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